sexta-feira, maio 29, 2009

Entrevista de Paulo Pereira Cristovão - Jornal i

O que levou a candidatar-se ao Sporting?
Acima de tudo, o meu sportinguismo e os 35 anos de associado que já levo: pago quotas, acompanho, rio, choro… Registei que existe uma grande crise de militância, magreza de associados, em termos directivos, de estrutura e institucional… Por isso, acabei por avançar, depois também de várias conversas com a dita oposição…
Foram assim tão produtivas?
Houve uma depuração que teve de ser feita. Eliminámos algum lixo tóxico, ficámos com as pessoas que queriam de facto ajudar o Sporting sem interesses…
Havia pessoas com interesses paralelos?
Acredito que na dita oposição e na continuidade há gente que se interessa por mais do que o bem do clube…
E a sua lista?
Temos uma lista bastante asseada, totalmente “clean”.
Mudou a sua vida profissional pela candidatura ou nesta altura já tinha as coisas organizadas para poder avançar?
Se eu tivesse a profissão que tinha em 2005 [inspector da PJ] estava proibido de ter qualquer participação social, nomeadamente concorrer à presidência do Sporting. No final de 2006 criei as minhas empresas e fiquei mais livre. Não alterei a minha vida profissional mas tive de adapta-la nos últimos dois meses. E no futuro será assim…
A partir de que momento é que começou a perceber que poderia ser o número um?
Fomos tendo reuniões…
Que não foram assim tão poucas…
Que não foram assim tão poucas e a comunicação social não soube de todas. Mas posso dizer até que foram as pessoas com mais passado em termos de Sporting, como Luís Aguiar de Matos ou Isabel Trigo Mira, que, a dada altura, num acto muito nobre, disseram que seria melhor avançar uma pessoa nova. Trabalhei com gente muito competente para todas as áreas e que quer servir o Sporting e não servir-se dele. Ficaram os melhores.
A certa altura parecia que havia dúvidas sobre o número um…
Nunca houve, era tudo para baralhar. É tão bom gerir silêncios como palavras, assim como é tão bem gerir informação como contra-informação.
Dias da Cunha esteve sempre presente?
Não. Esteve em algumas.
Mas foi uma figura importante?
Olho para Dias da Cunha como uma pessoa honesta e um grande sportinguista. Não foi o mentor, nem o patrocinador nem o aglutinador da candidatura, foi mais um que esteve connosco.
Até avançar em definitivo falou com mais alguém? Com Soares Franco?
Não, antes nunca.
E Pedro Souto?
Falei uma vez vez com Pedro Souto porque tinha a perfeita noção de que quanto menos listas existissem mais poderiam ficar servidos os interesses do Sporting. Mas apercebi-me que queria mais do mesmo, queria ficar com as pessoas que lá estavam com a diferença de estar ele à cabeça. Ficámos conversados.
Portanto, não o surpreendeu quando desistiu?
Nessa altura, a candidatura dele valia só 1 por cento…
Tem batido na tecla da mudança e da viragem. E já disse que pretende fazer uma auditoria aos últimos 13 ou 14 anos, o que remete para o início do projecto Roquette. Acha que foi aí que tudo o que considera estar mal começou?
Nessa altura, tínhamos 50 milhões de passivo, agora temos 340 milhões. Pedimos dinheiro para construir um estádio, devemos três. Temos uma direcção que, nos últimos anos, recebeu mais do que qualquer outra direcção na história do clube, cerca de 125 milhões, não abateu quase nada no passivo… Não vejo que tenha chegado qualquer Messi e Ronaldinho ao Sporting… Por isso, acho que deve ser feita uma auditoria a bem do Sporting, não só financeira mas também estrutural, que nos faça entender o que é que se passou...
Nessa altura, acreditava que o projecto Roquette podia mudar o clube?
Não me recordo no que acreditava, apenas que achava que o Sporting seria bem conduzido pelos seus dirigentes. Agora, ainda no outro dia estive a falar com o presidente João Rocha e, nessa altura, quando saiu, o Sporting tinha 300 mil metros quadrados de terrenos, passivo zero, um clube eclético e o resto é conversa. Havia esta realidade e agora há outra é importante que entendamos o que se passou.
Parece que o seu plano tem muitos traços de regresso ao passado...
Como assim?
O regresso aos sócios, os estádios cheios, a capacidade mobilizadora, tudo enquadrado numa gestão muito rigorosa...
Foi esse tipo de gestão que acabou por afastar os sócios. E não teve a ver com a política mas sim com o discurso, porque se esqueceram que o futebol é paixão, as pessoas não são sócias de uma empresa mas sim de um clube, é algo que não é palpável, não se pode medir, não é sequer possível de descrever algumas vezes. Dentro disso, as pessoas que promoveram essas políticas é que fizeram com que as pessoas se afastassem, os critérios e as linhas não têm a ver com isso. Ainda recentemente, o presidente que agora, felizmente, vai sair, disse e repetiu que o que interessa é quem lá põe o dinheiro, os sócios só atrapalham, são uma maçada, um obstáculo, prefere clientes a sócios, accionistas a sócios... Parece-me óbvio que isto não é dizer aos sócios que são bem vindos. As SAD quando chegaram vieram para conferir ao futebol uma visão empresarial, uma gestão devidamente enquadrada na actividade mas a verdade é que o Sporting levou um cachorrinho pequeno para dentro de casa que foi engordando, engordando e agora qualquer dia come a casa. A culpa de tudo isto é de quem afastou os sócios. E esta nossa questão do regresso aos sócios acaba por ser um reencontro – que o clube volte aos sócios para depois os sócios voltarem ao clube. Na década de 90, o Sporting era muito, muito prejudicado em determinados jogos e na segunda-feira, de raiva, os sócios até faziam fila para levar amigos que se faziam sócios. Isso é militância! Em algumas alturas, o Sporting jogava para o quarto lugar nas últimas jornadas e Alvalade tinha mais de 40 mil pessoas. Isto tem a ver com militância, com sentimento de pertença, o "belonging"... E isso não renasce por despacho, isso não existe. Este regresso surgirá quando demonstrarmos outra vez aos sócios que vale a pena. Como? Com determinadas acções para eles e para o clube que os façam sentir orgulhosos de serem do Sporting. Porque as pessoas não pedem tanto assim, pedem que os dirigentes assumam. E agora há muitos que andam por ali, parece que colocam o modo invisível e ninguém os consegue observar... E depois tinha de vir o Paulo Bento, mero treinador e funcionário do clube, a defender a honra do convento e de uns quantos milhões de sportinguistas...
Porque é que diz que é a primeira alternativa que os sócios têm? Como é que classifica a lista de Abrantes Mendes em 2006?
É a primeira vez que há uma alternativa a sério. Hoje, com algum distanciamento, pese embora algum voluntarismo, parece-me que a abordagem e os enfoques que foram dados não foram os melhores, embora tenha sido prejudicado pela própria cobertura da comunicação social, que lhe deu uma visibilidade quase nula (quando deu destaque foi para as coisas negativas, como o episódio do BCP). Isso não aconteceu connosco, só numa primeira fase. A mensagem está a passar mais, as pessoas que nos contactam, e que são as verdadeiras sondagens, estão a aderir, temos um feed-back fantástico e é um apoio transversal, porque vem dos sócios mais antigos aos mais novos. É falso dizer que somos uma lista dos jovens, basta ver a lista de subscritores que apresentámos na candidatura.
Como é que viu o processo de sucessão de nomes na linha de continuidade?
Uma confusão tremenda... E quando digo que José Eduardo Bettencourt foi a sétima ou oitava escolha foi porque José Eduardo Bettencourt foi a sétima ou oitava escolha. Foi a escolha que tiveram de fazer depois de duas ou três sondagens que fizeram de forma secreta, onde eram arrasados pela nossa lista.
Já percebi que não gosta muito de sondagens...
Depende... Ontem estávamos à frente num dos maiores blogues do Sporting e no site da RTP... Mas valem o que valem, sondagem é no dia 5.
Mas no seu site diz que, do outro lado, fala-se de uma vitória por 90%...
Continuem a acreditar nisso... Ou mesmo que vão ganhar com 95%... A soberba com que estão se calhar pode dar origem a uma surpresa no dia 5 às pessoas que recusam ir a debates, que não gostam de fazer uma troca democrática de ideias que são importantes para o clube...
Surpreendeu-o a recusa para um debate?
Não... Mas eu entendo – é que, para haver um debate, é importante que existam dois projectos e José Eduardo Bettencourt não tem nada para apresentar... Por isso, e como não existem duas ideias nem dois caminhos, não pode haver debate... Eu tenho um caminho. O que é que ele fez? Chegou, disse “aqui estou eu, José Eduardo Bettencourt, sou um bom gestor – que não é, diga-se – e agora deixem-me pôr o cachecol ao pescoço e votem em mim”. No dia 5, os sócios decidirão a direcção que querem ter e, sobretudo, a direcção que merecem ter...
Soares Franco disse que ficou surpreendido com o avanço de Bettencourt...
Vindo de quem vem, já nada me surpreende... Da mesma maneira que diz que o passivo são 220 milhões de euros e depois José Eduardo Bettencourt diz que são 360 milhões... O que posso dizer? Que dia 5 logo se verá...
Leu a entrevista de Soares Franco? Acusou-o de demagogia...
Li, li... Eu gostava de responder à letra mas não o faço porque, até dia 5 de Junho, ele é presidente do Sporting, do meu clube. Depois, terei todo o prazer de responder mas frente a frente porque publicamente pode ser chato...
Olhando para o projecto que defende, há um grande enfoque no ano de 2013, ano das próximas eleições. É esse o período chave do clube, por causa do novo aeroporto e da valorização da Academia?
Primeiro tenho de saber como é a questão dos direitos desportivos, se foi ou não prorrogado o contrato até 2019 ou se termina em 2013... Só depois posso dizer...
Mas não sabe isso?
Não, sou candidato mas não me explicaram isso...
E acha que o outro candidato sabe?
Não sei... Eu não sei mas gostava de saber e era importante...
Se acabar em 2013, é mesmo o ano chave...
Admito que sim... Em relação à Academia, nessa altura os terrenos valerão seguramente o dobro do que valem hoje em dia... A única coisa que espero é que esta valorização ocorra em favor do Sporting, tem de ser para o Sporting e para fazer face ao grande problema do Sporting, que é o constante défice de tesouraria...
Isso preocupa-o mais do que o próprio passivo?
Claro que sim porque os nossos netos e bisnetos ainda vão ter de ouvir falar de passivo. O passivo e os juros vão-se pagando, os bancos sabem que todos os compromissos que estão assinados vão ser honrados até à última, de forma escrupulosa. Tudo o resto está fora de questão. Agora, o grande drama do Sporting é o défice de tesouraria, a gestão do dia-a-dia... É como nas nossas vidas, pagar a casa, pagar o carro, pagar o gasóleo, uma série de questões práticas da nossa vida diária... E o Sporting precisa é de corrigir isso. Como? Com uma gestão bastante mais eficaz do merchandising, que é muito fácil de melhorar nesta altura, faz com um apelo grande aos sócios, faz através de uma equipa de futebol que jogue e dê espectáculo porque as pessoas não vão ao estádio para adormecerem – há muita gente com gamebox comprada que vão a quatro ou cinco jogos por época –, faz com um estádio cheio...
Concorda com a distinção gamebox sócio e gamebox adepto?
Concordo com essa distinção, não concordo é que os sócios sejam prejudicados no final do ano. É fantástico: chega ao fim do ano e o sócio com gamebox e com quotas fica sempre a perder dinheiro... É mais uma mensagem subliminar que dão aos sócios para se afastarem do clube.
Mas admite diluir já isso?
Tem de acabar. De imediato. Nós queremos é que os adeptos se tornem sócios do clube e não o contrário como agora! Há muita gente no Sporting a quem custa muito pagar as quotas e devem ser premiados. O Sporting não é um clube de ricos, é transversal na sociedade como o Benfica ou o FC Porto. Temos de ter noção disso e deixar a ideia que vale a pena ser sócio: não só podem participar na vida do clube, porque vão poder voltar a faze-lo, mas também irão beneficiar de uma série de vantagens como prémio para a fidelização...
Por exemplo?
Vales de desconto na loja do clube, por exemplo. A mim não me interessa ter uma loja com quatro mil produtos diferentes, prefiro ter só mil mas que vendam. E tem tudo a ver com uma série de exigências dinâmicas que o Sporting não tem neste momento. Por isso, as despesas são o que são, as receitas são o que são, existem prémios para administradores quando conquistam um segundo lugar... Eu só entenderia isso se fosse o Sp. Braga, por exemplo. Quando se premeia o medianismo, promove-se o medianismo!
É com um modelo à FC Porto que o Sporting vai começar a ganhar?
Foi das coisas mais infelizes que ouvi nos últimos tempos... O modelo que eu quero é à Sporting e à Paulo Pereira Cristóvão. Quando ouço isso, quando querem adoptar esses modelos, eu faço a pergunta: mas se é tão bom, porque é que todos os outros clubes não adoptam esses modelos ganhadores? É porque não querem ganhar? Não é por aí... É bom que percebam que há coisas que não se criam por decreto nem por despacho presidencial. É preciso criar uma cultura, a partir daí nascem rotinas, é preciso trabalhar, semana após semana e mês após mês, manter os princípios de exigência, de rigor, de transparência... E quando falo de exigência, assumo que é isso que defendo mas não é chegar ao clube e exigir mais a todos, é fazer mais para que os outros olhem para cima e percebam o que é exigência. Por isso, é tão exigente que alguns não conseguem e terão de procurar outras paragens. Mas atenção, é exigente mas também recompensador... Faz parte próprio do nosso ADN...
Vai assumir o futebol mas também quer uma equipa pequena a mandar no futebol. Isso é um dos pontos de contacto com José Eduardo Bettencourt?
Pelo contrário, mostra é que José Eduardo Bettencourt sabe ler muito bem porque quem não tem ideias tem de ir beber a algum lado e ele fe-lo no programa “Ser Sporting”. Nunca o vi defender determinadas ideias e agora parece que já concorda... Até já ouvi esta semana que também quer um pavilhão... Já ouvi dizer que o presidente ia assumir o futebol quando ele fez parte e foi solidário com um sistema em que o presidente estava afastado e à margem do futebol... Mas congratulo-me, mostrou que aprendeu qualquer coisa connosco... Agora, uma coisa é a linguagem de campanha, outra é a parte de passar à acção... No nosso caminho, não temos de imitar ninguém. E a verdade é que, no dia 5 de Junho, o Sporting vai ganhar porque, pela primeira vez em muitos anos, tem duas opções. O que mostra que o Sporting pode deixar de ser uma monarquia, onde o rei deixa ao príncipe etc.
Acha que vai sofrer desse estigma da continuidade?
Quem, eles?
Não, a sua candidatura.
Não... Os sócios podem escolher e terão o presidente que merecem, na certeza porém de que, daqui a quatro anos, já não estarei cá porque sei qual é o meu caminho, sei qual é a minha intervenção em termos de Sporting. Prestei serviços e não me verão daqui a quatro anos a concorrer de novo porque, caso não ganhe, duvido que haja algo que valha a pena concorrer daqui a quatro anos...
Admite trocar e debater ideias caso perca as eleições?
Não, recorde-se que o Sporting é que tem um candidato, que não sou eu, que não quer conversar nem debater ideias... Quer que faça monólogos para uma parede? Entendi que, no dia 5, cumpre-se o meu próprio destino, para bem ou para mal. Só quero é que seja o presidente de todos os sócios. E que fique já bem claro que qualquer que seja o resultado das eleições, o eleito é o presidente de todos os sportinguistas. De todos mesmo! Porque com o número actual de sócios e a queda dos últimos anos, devemos estar todos unidos para levantar o clube, a não ser que queiram a "belenensização" do Sporting, isso é outra história.. Se quiserem assim, ok... Enquanto houver um sportinguista haverá sempre Sporting mas convinha que fosse aquele grande clube a que nos habituámos e não a memória de algo que foi grande... Por isso, esse clima de guerrilha interna tem de acabar para estancar a crise de militância. Aliás, as pessoas do Sporting estão condenadas a unir-se, a não ser que queiram ver os seus interesses pessoais acima dos do clube... Nós ficaremos sempre de consciência tranquila...
Se ganhar, espera a mesma posição do outro lado?
Exijo o mesmo, nem mais nem menos. E ai deles que não o façam...
O nome do treinador é a grande carta por apresentar?
Esse é um tabu que até me dá um certo gozo... Estudei de forma profunda a questão do futebol do Sporting, identifiquei os problemas mas até lhe digo que, por mim, não dizia o nome do treinador porque acho que não devemos voltar ao tempo das unhas de leão e por aí. As pessoas são outras, o mundo é outro e, felizmente, já não seguimos esse caminho. Agora, a partir do momento em que o outro candidato começa a candidatura a indexar o seu avanço a um treinador... Bem, primeiro começou mal, depois o “forever” ainda foi pior porque, acima de tudo, o Paulo Bento é um funcionário do clube e remunerado para isso, por muito respeito e consideração que tenha pelos serviços que fez pelo Sporting, que até merecem que lhe faça uma vénia... Mas é um funcionário do clube e quando alguém quer ser presidente e indexa essa vontade à manutenção de um treinador começa muito mal. Posto isto, entendi que os sócios devem levar os dois pratos da balança – de um lado presidente e treinador, do outro presidente e treinador. Só por isso. Em qualquer outra circunstância, nunca iria fazer a revelação pública antes das eleições. E espero não ter de falar de jogadores...
E se José Eduardo Bettencourt apresentar jogadores?
Aí iríamos regredir uns 20 anos mas lá teria de levar também com mais um ou dois jogadores... E garanto que vai perder em todos, é melhor nem ir por aí... Mas também vai perder no treinador... Mas espero que não vá por aí, ou daqui a pouco ainda lhe chama as unhas do José Eduardo ou algo do género...
Mas já está a tratar do futebol há dois meses, já deve haver mais...
Claro que há mais... Não estou a trabalhar com muitas pessoas mas são boas...
Portanto, se for eleito já tem a época 2009/10 pronta?
Claro... Mal de mim se não tivesse...
Pedro Barbosa está no projecto?
Não sei, não sei o que Pedro Barbosa faz...
Portanto, não conta com ele...
É como lhe digo, não sei o que faz... Por isso, provavelmente vai sair...
E em termos de SAD, já pensou nos nomes?
Sim.
Tem a equipa montada?
Sim, mais ou menos.
O que é o departamento de reputação do Sporting que pretende implementar?
Dentro do que lhe posso explicar para já, vai funcionar de forma activa, pró-activa... Vai ser virado não só para o futebol mas para todo o mundo Sporting. É a detecção de falhas perante o clube e contra a instituição, detecção de situações ainda em germinação e exterminação das mesmas... Tem a ver com coisas tão simples como um qualquer desaguisado entre dois funcionários do clube, por exemplo, que vai contra o bom nome do clube... Mas tem a ver com outras coisas diferentes como a protecção e enquadramento de jogadores que chegam ao clube...
Acha que existe aí uma grande falha?
Há várias situações dessas que revelam a mais pura incompetência e amadorismo que existe no Sporting. Eu não concebo que jogadores que acabam de chegar ao clube estejam no treino a pensar onde é essa coisa da Loja do Cidadão para ligar a TV Cabo... Mas existem mais 30 ou 40 exemplos desses... São pormenores de amadores vindos de pessoas que se regem pela mais rigorosa gestão mas que não percebem nada de futebol. Um jogador de futebol só tem de preocupar-se em jogar de futebol. Quem põe os filhos nos colégios, quem trata da casa, do carro etc. terão de ser as pessoas do clube para dispensa-los dessas questões diárias que consomem...
É por aí que vão acabar as manifestações de jovens jogadores que querem sair?
Não tenha dúvidas... O primeiro objectivo de um jovem que alinhe nos juniores do Sporting tem de ser jogar na equipa principal. Esse é que deve ser o seu orgulho! Depois de chegar lá, só tem de brilhar e ajudar o clube que tanto nele investiu. Aí, depois, como o chamamento é grande e o Sporting também precisa de vender – não só para fazer dinheiro mas também para abrir espaço para que outros jovens vão aparecendo – compreendo que saiam. Agora, miúdos que ainda nem sequer passaram pela equipa sénior do Sporting e já falam e pensam em Real Madrid, isso vai acabar. Pode ter a certeza... Se fizer isso, vai ter uma carreira mais curta dentro do Sporting porque para um jogador que faça maravilhas com a bola também posso passar pela Costa da Caparica, onde há um senhor que dá toques a subir as rochas e não é dos mais bem pagos do mundo... Portanto, habilidosos da bola há muitos, com a cabeça no lugar há poucos, que amem o Sporting ainda menos. Outros que olhem para o Sporting como plataforma ou trampolim terão uma carreira mais curta em Alvalade, terão de arranjar outros trampolins para passarem a fronteira...
Quando escolheu o treinador, pensou mais numa óptica de disciplina e exigência ou de formação?
Deixe-me dizer-lhe uma coisa: eu compreendo porque é que José Eduardo Bettencourt quer Paulo Bento, porque tem uma direcção fraca e que não responde por ele, não se sabe mexer, sai da Liga porque perde um jogo e fomos “roubados” no Algarve – porque o vermelho pesou mais do que o verde e ainda ninguém me desmentiu...
Quem? Árbitro ou direcção?
O senhor que tinha a bandeira e que decidiu numa fracção de segundo... Embora também sejam incompetentes e maus... Maus e arrogantes que ainda é pior... E que têm um presidente que para provar que não beneficia o Sporting faz sempre o pior contra ele...
Mas voltando ao treinador...
Sim... Compreendo que queria manter Paulo Bento porque é um complemento de algo que não existe naquela direcção. Nós podemos dar-nos ao luxo de ter outro tipo de treinador, que nos projecte em termos internacionais porque é um grande desafio para ele, que nos faça passar bons momentos a nível de competições europeias, onde tivemos alguns desgostos e derrotas que vão ficar na história, alguém que tenha outra forma de estar e sentir o futebol, mais experiente... Mas porque nós podemos dar-nos ao luxo de o fazer porque quando olho para treinadores olho para o clube, para a personalidade, para os sportinguistas e tive também atenção ao que pode faze-los felizes porque isto também é para eles... Se conseguirmos num momento e numa pessoa reunir as condições técnicas, as condições de projecção, as condições de respeitabilidade, as condições que consigam dar alegria, os sócios estarão perfeitamente realizados...
É estrangeiro?
Claro... Português só vejo um mas é impossível...
Passou-lhe pela cabeça falar com José Mourinho?
Não, nunca... Sei como as coisas são, apesar de outros não terem essa consciência...
Então será estrangeiro, experiente...
Juntei vários requisitos numa só pessoa e isso dá-me um gozo tremendo...
Mas quem é?
Só amanhã ou segunda-feira...
Como é que ele encarou o desafio que lhe propôs?
Viu como um desafio... A partir de um determinado momento da vida, já não é o dinheiro que faz tomar decisões, é mesmo o desafio… Numa altura em que está bem, tem é de ter prazer naquilo que faz, algo que o estimule, que dê vontade… Com 30 anos não se pensa assim porque quer acumular dinheiro, com 40 consolidar, com 50 está pré-reformado... Há várias fases da vida e os treinadores também são assim, quando estão equilibrados e bem pensam de uma outra forma...
Acha que esse nome vai desequilibrar para o seu lado?
Acho que sim.
Então porque é que não divulga já?
Não tem a ver com estratégia eleitoral mas sim com questões de pormenor... Por mim, já teria dito, não é por aí... Tem só a ver com isso...
Mas é amanhã?
Espero que sim...
Deve esperar sala cheia no auditório, às 19 horas...
Não tenho dúvidas, até porque tem a ver com o futebol... Todos querem saber quem é o treinador da próxima época... Nas outras sessões, explicamos sempre o que é que se fez, o que é que se faz e o que pretendemos fazer. Tudo verdade, porque ninguém me chamou mentiroso... Amanhã será igual...
Na anterior sessão, apresentou um pavilhão a 500 metros do estádio. Porque é que nunca ninguém tinha pensado no jardim do Campo Grande?
Olhe, não sei... Não devem querer... Tem a ver com competência e porque, na minha lista, fui eu que escolhi quem ocupava as pastas e falei com o José Pedro Rodrigues, que percebeu em cinco dias que havia um concurso internacional público para construção de instalações desportivas nessa zona desde 27 de Abril... Nem que seja a última coisa que faça, o Sporting vai ter um pavilhão ao pé do estádio.
Para quantas pessoas?
Nunca menos de 2.500 pessoas.
Quanto vai custar?
Ao Sporting zero. Tenho o naming do pavilhão garantido caso ganhe. Agora, tenho dúvidas é que quem lá está queira mesmo fazer um pavilhão. Aquele espaço está ali a concurso, tal como as piscinas dos Olivais... Não quiseram foi olhar mas ao menos que assumam isso.
Tem outras opções?
Existe um plano B mas acho que não vai ser necessário. É ali que nós queremos porque está mais perto, obriga a soluções em termos de arquitectura giras naquela zona, obriga o Sporting a lembrar à câmara que é credor de 23 milhões de euros...
E a questão do fosso, de querer que as bancadas estejam mais próximas do relvado?
As próprias cadeiras a mais que teremos pagam as obras que são necessárias fazer. É tão simples como isso. Até porque o túnel vai manter-se e as pessoas ficarão mais perto do relvado.
Continua a achar que aquele é o reflexo do Sporting actual?
Evidente... Construíram o fosso por causa dos camiões quando fossem os concertos. Mas quais? Para três concertos? Por amor de Deus... Há muita gente disposta a comprar aquelas cadeiras, mesmo que não estejam cobertos com a pala, porque gostam de estar ao pé do campo e é bom para os próprios jogadores sentirem os adeptos mais próximos de si... É uma obra simples, quanto muito o relvado pode rebaixar 30 centímetros mas é simples.
E em relação à cidade desportiva?
É outro projecto que estamos a falar e pode ser a futura academia do Sporting... É o que acontece em Vila Nova de Gaia... É uma ideia que continua a ser falada com uma câmara e não há muito mais para falar nesta altura.
Será mais próxima do que Alcochete?
Seguramente.
Pensa vender a Academia de Alcochete daqui a uns anos e fazer uma na Alta de Lisboa?
Não.
Mas o facto de a Academia ser em Alcochete não tirou sócios ao Sporting?
Sim. Mas ainda sou um dos poucos heróis que vai a Loures, ao Casal Vistoso, a Alcochete. Já não há é muitos como eu...
Lisboa-Loures é mais perto?
É mais perto... Mas há mais locais.
Há outro ainda?
Há muita gente que quer o Sporting, quanto a isso estou descansado. Certo é que iremos para onde for mais vantajoso para o Sporting, quem beneficiar mais... Nisto, como em tudo, não há cá amizades nenhumas...
As modalidades são todas para manter?
Sim, as que existem são para manter e reforçar, por forma a estarem sempre na luta pelos títulos. Podem ganhar ou não mas têm de honrar o clube. Por exemplo, estive em Alvalade antes de a equipa de andebol ir para a Luz, onde não podia contar com adeptos, e fiz questão de espera-los de novo em Alvalade a seguir ao jogo, mesmo depois de serem eliminados de forma injusta. Vi jogadores a chorarem quando saíram do autocarro. Isto é que é ser Sporting, por isso até bebemos champanhe porque honraram ao máximo a camisola e o clube. É isto que quero em todas, tive muito orgulho apesar de não ganharem.
E os projectos-piloto apresentados pelo Congresso?
Isso está tudo estudado, depois dependerá dos sócios porque são eles que vão escolher para que modalidade é que querem que vão 25% das quotas mensais. Queremos que os sócios contribuam e digam aquilo que querem ou não ter. Não há nada mais democrático do que isto. Olhe uma coisa é certa: esses 25% não vão nem para o horseball nem para o bridge, não me parece. Há que entender que, no Sporting, há quem goste de jogar bridge mas também há quem goste de jogar à sueca ou às damas... O Sporting tem de tudo!
Qual é a sua opinião sobre José Eduardo Bettencourt?
Nunca falei com ele pessoalmente, embora tenhamos estado a cinco metros um do outro no último jogo em Alvalade, eu em campanha e a falar com pessoas e ele a juntar assinaturas para avançar. Só conheço aquilo que é fruto das suas acções, das suas inacções, das suas concordâncias, das suas discordâncias... Entendo que é sportinguista como eu (nem vale a pena ir a um termómetro ver quem é mais ou menos sportinguista, somos os dois por igual), mas alguém que cedeu a demasiados conluios, como se viu na questão de Rogério Alves..
Surpreendeu-o?
Não porque sei o que se passou.
E então?
Não me surpreendeu.
Foi um tiro no pé?
Não, foi um tiro no porta-aviões.
E a escolha de Dias Ferreira?
É outro sportinguista...
E o que acha mais da outra lista?
Que a recusa para um debate é uma falta de respeito, sobretudo pelos sócios do Sporting. E acima de tudo com a democracia, que não é só aplicável aos partidos políticos mas também a muitas outras na vida, nomeadamente o desporto. Já diziam Sócrates e Platão que o diálogo era importante... Mas também entendo, por outro lado, que para ir para um debate, para uma argumentação e contra-argumentação de ideias, é preciso ter ideias...
E ele não tem?
Não as tendo é muito complicado...
Mas o Sporting até é acusado algumas vezes de ser um partido político?
Apontavam o dedo e diziam que não havia alternativa. Apresentámos tudo, nas mais diversas áreas, fizemos uma campanha boa e correcta, explicámos todas as ideias, no outro lado vemos o avança, o não avança, as recusas, as facadas nas costas, acusações de traições, tudo o que não abona nada a favor do Sporting... Afinal, nós é que fizemos uma campanha limpa, com ideias e sem problemas. E essa já é uma grande vitória porque muitas vezes dá-me mais prazer a forma como se chega a determinado objectivo do que conseguir alcança-lo.
Sente que nesta altura tem mais razões para acreditar que pode ganhar?
Eu só aceito desafios para ganhar, isso é ponto prévio. Hoje, objectivamente, tenho mais pessoas a apoiar-me, tenho falado com muitas pessoas, tenho passado a mensagem. Por isso, hoje estamos mais fortes, com mais gente e, por inerência, com mais votos do que há uma ou duas semanas atrás... É um facto. Não me preocupam as sondagens...
Que percentagem teria agora?
Não sei e não me preocupo porque, acima de tudo, quem já ganhou foi o Sporting, apesar das recusas para debate. Por enquanto, depois no dia 5 veremos se os sportinguistas perderam alguma coisa ou não... Certo é que, no dia das eleições, estarei com um grande sorriso nos lábios porque apresentámos uma alternativa válida e estaremos todos com o sentimento de dever cumprido. Depois, ou temos quatro anos pela frente, o que será uma honra e um gozo enorme, ou então pode acontecer o contrário. Sairei sempre de consciência tranquila. Se formos eleitos, vai haver trabalho, rigor e excelência porque chegou uma nova vida ao clube.
Quanto é que vai ganhar?
Já o disse publicamente – como presidente do Sporting nada, como presidente da SAD no máximo 20 mil euros por mês. Temos pena, não tenho de estar a olhar para aquilo que ganho hoje porque também vou perder e não ando a chorar-me por aí. Nem sou maluco. Nem minto aos meus pais nem à minha mulher... Acho que isto é o justo porque temos de atender ao estado do clube e do país.
José Eduardo Bettencourt vai ganhar isso?
Não, vai ganhar bem mais. Mas é uma opção dele, refugia-se na comissão de vencimentos que é constituída pelos presidentes da assembleia geral e do conselho fiscal eleitos pelo líder da direcção. Mas eu, antes, já disse como deve ser. Depois, prémios indexados à vitória no campeonato ou aos quartos-de-final da Liga dos Campeões sim, prémios pelo segundo lugar não. Porque razão é que uma pessoa da SAD que pouco mais faz a não ser preparar contratos deverá ter direito a prémio? E o motorista que conduz a equipa? E as senhoras que limpam o autocarro? O que é que fizeram a menos ou a mais? Porque é que não merecem prémio? Por isso é que li e vi coisas que nem queria acreditar, como as declarações no aeroporto de uns contra os outros... Temos de crescer na ambição, quando se premeia o medianismo promove-se o medianismo, quando se premeia a excelência, promove-se a excelência. Os jogadores do Sporting vão ter de habituar-se a isso, a excelência será algo estrutural no clube a partir de dia 6 de Junho.
Já sabe quais são os jogadores com que conta?
Sim, todos.
E vão sair alguns?
Sim, claro.
Quem?
Primeiro quero falar com os próprios.
E vai vender jogadores?
Admito vender, dar, comprar... Tudo. Mas há jogadores do actual plantel com os quais não conto para a próxima temporada. Quando se assiste aquele espectáculo no aeroporto de jogadores a dizerem mal uns dos outros, acusarem que alguns falavam de mais... É sinal que alguma coisa não está bem.
Está a falar de Miguel Veloso?
Quando há necessidade de vender um jogador e se desvaloriza essa activo e se diz que se quer vender... O que lhe posso dizer mais? Mas mais importante do que esses comportamentos, é importante perceber porque é que isso acontece.
João Moutinho é um bom capitão?
É um capitão demasiado novo para o Sporting mas se calhar não havia outra referência. É um enorme profissional, um enorme atleta, excelente miúdo, excelente homem, é fantástico. Deram-lhe a braçadeira muito novo mas quem é que poderia ser mais?
Liedson e Derlei são para ficar?
O Liedson que nem se atreva a sair porque é património do Sporting e tem de acabar a carreira em Alvalade. Ponto. O Derlei, caso queira continuar a carreira, conto com ele para mais uma temporada mas, quando arrumar as botas, terá uma sinal de proibido na porta porque quero que se mantenha no clube. As glórias devem sempre ficar em casa e o Derlei, não sendo uma glória do clube, tem de ficar pelo espírito guerreiro e de conquista que tem.
Stojkovic é para ficar? O que acha de Rui Patrício?
Stojkovic é um excelente guarda-redes e fica no plantel. O Rui Patrício é um jovem, tem qualidade, foi obrigado a assumir muito novo a baliza do Sporting (fez-me lembrar o que se passou com Rui Correia) mas acho que tem de haver alguma experiência na baliza, que não se compadece com genialidades, é um posto específico. A minha racionalidade faz-me pensar que Stojkovic deve ficar.
Fonte:

Sem comentários: